Mullu:

"Mullu" é o nome pelo qual ancestralmente era conhecida a concha spondylus, que era coletada nas costas equatoriais do Oceano Pacífico, nos territórios do povo Manteño-Wankavilka. Sua chegada simbolizava o surgimento das chuvas que garantiam a reprodução da vida. Por isso, o mullu se tornou um objeto sagrado que era trocado, através de viagens por mar e terra, como símbolo de aliança entre os povos.

Em toda a Abya Yala, desde a Mesoamérica até a Patagônia, eram elaboradas peças cerimoniais, vasos e colares com o mullu e até mesmo era utilizado na construção de templos ancestrais. Seu profundo significado espiritual nos lembra a origem da vida no oceano e a conexão de nossas culturas com a água, assim como a essencialidade das alianças e do intercâmbio para fortalecer nossos povos. 

Sobre nós

Somos un colectivo diverso e intercultural de cineastas, comunicadorxs, periodistas y defensorxs que amplifica las voces de las culturas profundas que habitan los ríos, las selvas, los páramos, las llanuras y el mar, así como las nuevas geografías urbanas indígenas y afrodescendientes. Nos alineamos con las disputas anticoloniales y reivindicamos o direito de imaginar e construir futuros culturalmente diversos e socialmente justos para todos os povos do mundo.

No início de 2022, diante da apropriação e das ameaças que enfrentamos como povos originários e comunidades de linha de frente, nos inspiramos nas práticas e ensinamentos de nossxs ancestrais que trocavam o mullu para construir alianças e fortalecer suas resistências.

Inspirados pela arte e pela visão de mundo do povo Manteño-Wankavilka, concebemos um projeto multidisciplinar, reconhecendo que o cinema e a comunicação são meios ideais para influenciar, amplificar e conectar os povos do mundo.

Assim nasce o Mullu, uma comunidade audiovisual alternativa, artística, diversa e comprometida.

Nossa visão de mundo

Mullu busca se tornar uma plataforma de cinema e comunicação audiovisual que impulsiona, impactando em nível continental, os processos de construção da soberania audiovisual dos povos originários. Trabalhamos na produção e distribuição de filmes e notícias que problematizam as múltiplas ameaças e desafios enfrentados pelos povos indígenas e afrodescendentes, ao mesmo tempo em que reforçam a afirmação cultural de suas próprias visões, aspirações e linguagens estéticas.

Nossa meta é impulsionar a formação e consolidação de audiências que recebem de maneira crítica e interativa os conteúdos criados por comunicadorxs e cineastas dos povos indígenas e afrodescendentes a partir de suas próprias visões de mundo, para amplificar seus ricos idiomas estéticos e semióticos, ao mesmo tempo em que promovemos e valorizamos a diversidade cultural.

Visualizamos um futuro no qual as vozes dos povos originários e sua diversidade biocultural são valorizadas, reconhecidas e amplamente difundidas em audiências regionais e globais; um futuro no qual as lacunas de desigualdade e discriminação no acesso à comunicação para os povos indígenas tenham sido superadas pela energia criativa dos povos, comunidades e coletivos.

Nosso compromisso é fortalecer as capacidades próprias das pessoas, dos coletivos e das comunidades que fazem parte dos povos indígenas e afrodescendentes para ampliar os processos comunicativos e artísticos de luta e resistência, assim como suas visões, linguagens e propostas estéticas geradas a partir de seus próprios contextos culturais.

Criamos ações, iniciativas e parcerias voltadas para a produção e distribuição de filmes e notícias geradas pelos povos originários e afrodescendentes, ou desenvolvidas em colaboração com criadores interessados em narrativas indígenas e afrocentradas.

Contribuímos através da construção de processos formativos para comunicadorxs e cineastas indígenas e afrodescendentes; apoiamos a necessidade de desenvolver narrativas audiovisuais que, sob um adequado enquadramento de transmissão cultural, amplifiquem as vozes dos povos originários e fortaleçam seus laços comunicacionais.

Consideramos que, através do poder do cinema e da comunicação, são gerados processos de autodeterminação audiovisual que ajudam a:

1) dar visibilidade as lutas contra a apropriação indevida de territórios e bens comuns,

2) combater a discriminação racial e a violência em todas as suas formas, e;

3) consolidar os saberes, valores e visões de mundo próprios dos povos indígenas que contribuem para imaginar alternativas que coloquem no centro a relação dos seres humanos com a natureza, e a relação dos seres humanos com sua própria essência comunitária e social.

  • Acreditamos na horizontalidade e na cooperação entre iguais como princípio de criação coletiva.
  • Nos orientamos pelo princípio da convergência de redes, pela sinergia de forças e pela complementaridade entre iguais, mesmo sendo diferentes.
  • Enfrentamos toda forma de discriminação, opressão e exploração, especialmente aquelas derivadas do colonialismo, do racismo e do patriarcado dominante, tanto dentro das sociedades colonizadas, como nas sociedades capitalistas.
  • Nos identificamos com a busca por linguagens, símbolos e estéticas que reafirmam nossa condição de povos e sujeitos políticos anticoloniais, em busca de uma transformação social, política, cultural e ambiental.
  • Apostamos em um jornalismo dos povos e para os povos; entendemos esse trabalho como um processo de cocriação, em que trabalhamos junto aos povos que usam suas histórias e narrativas, aplicando os conhecimentos e técnicas da profissão jornalística.
  • Apoiamos abertamente a luta dos povos através de nosso trabalho como pesquisadores, jornalistas e cineastas.
  • Acreditamos na força do jornalismo e do cinema como meios para projetar e afirmar as verdades e pontos de vista dos povos e comunidades que afirmam seus processos de resistência e identidade cultural.
  • A pesquisa e o compromisso com a busca pela verdade e pela justiça são nossas ferramentas de incidência e contribuição para a causa dos povos e comunidades em luta.